Meu Namorado é um Zumbi – Não julgue o zumbi por ser apaixonado

Depois de feiticeiros e vampiros terem seu momento de badalação, agora é a vez dos zumbis. Os mortos vivos estão em evidência novamente devido ao sucesso estrondoso de The Walking Dead, tanto as HQs quanto sua adaptação televisiva, marcado por índices de rentabilidade absurdos, estabelecendo os zumbis como as criaturas sobrenaturais do momento.  Depois do fim da rentável “Saga Crepúsculo”, Hollywood estava sedenta para encontrar um romance teen com um toque sobrenatural, até que “Sangue Quente” de Isaac Marion foi lançado e diversos chefes de estúdio começaram a ouvir sons de caixas registradoras em seus subconscientes.

O longa chega ao Brasil como “Meu Namorado é um Zumbi” (mais um terrível título das distribuidoras nacionais), com roteiro e direção de Jonathan Levine.  Acompanhamos a entediante rotina de R, um zumbi bem conservado que está passando por uma série de crises existenciais. Cansado de perambular pelo aeroporto, ele decidi ir para a cidade com seus companheiros a procura de cérebros para saciar sua fome e fugir do tédio. Até que no meio da habitual confusão de gritos e tiroteios durante a refeição, ele conhece Julie, filha do líder do grupo de sobreviventes, o general Grigio. Mesmo após devorar o namorado anterior da menina, R salva Julie e à medida que os dois se aproximam algo desperta no romântico zumbi que pode mudar para sempre o destino desse mundo pós-apocalíptico.

Um dos principais méritos de Jonathan Levine é perceber o quão absurda é a premissa do longa. Dessa maneira o filme nunca se leva a sério, fazendo piadas a todo momento sobre o absurdo de algumas situações. Principalmente os momentos ligados ao bizarro romance entre os protagonistas, que são sempre contidos e sem a pieguice irritante adotada em Twilight.

O texto de Levine consegue tecer alguns comentários sociais interessantes como a futilidade da adolescência e a falta de conectividade humana, ilustrada por hábitos consumistas e o colecionismo do protagonista. A imposição do estúdio por uma abordagem mais leve, visando um público mais jovem (leia-se adolescentes acéfalas), certamente prejudica o entendimento dessas críticas, mas elas estão presentes em pequenos momentos. R lendo uma revista de fofocas com a capa estampada  por Kim Kardashian é uma das cenas mais cômicas do longa.

A narrativa se desenvolve sob o olhar de R que filosofa o tempo todo sobre sua existência e inseguranças, criando um laço de empatia com público. Nicholas Hoult compensa a incapacidade de comunicação do seu personagem com um cômico exagero de expressões faciais e consegue cativar a audiência, mesmo com seu bizarro hábito de comer cérebros. Sua química com Teresa Palmer é essencial para comprarmos a ideia desse romance bizarro. Teresa Palmer parece ter sido escolhida a dedo pelo estúdio por sua semelhança com a Kristen Stewart, mas sua performance é infinitamente mais carismática. Por mais que os dramas de Julie tenham sido explorados superficialmente, Teresa consegue estabelecer sua personagem devido a sua presença.

O elenco de apoio conta com a presença do insano John Malkovich, que se mostra contido e parece atuar de forma automática como o general Grigio. Mas o destaque entre os coadjuvantes certamente vai para Rob Corddry, com uma atuação marcada por seus trejeitos esquisitos e sua estranha amizade com R. Eu nunca imaginei que seria tão engraçado ver um zumbi falando “Fuck Yeah!”.

O filme possui alguns problemas visíveis como a maquiagem dos zumbis que não convence, as resoluções são simplistas e a acelerada humanização dos mortos-vivos. No entanto tudo isso é compensado com muito humor ácido, uma excelente trilha sonora e uma perspectiva diferente que tornam o filme uma grata surpresa. Não se deixe levar pelas aparências, “Meu Namorado é um Zumbi” é um filme assaz divertido e nos apresenta o único zumbi da história do cinema que curte Guns N’ Roses e Bob Dylan.

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