Quem diria que 12 anos depois ainda estaríamos falando da franquia Velozes e Furiosos? Uma franquia que começou focando em um público alvo composto por jovens pseudo-marombados cujos interesses básicos se resumiam a carros tunados e mulheres gostosas. Desde que Justin Lin assumiu o comando no terceiro filme, a série passou por um interessante processo de reinvenção com o intuito de abranger os horizontes, mas manteve mesmo que minimamente alguns elementos que consagraram a franquia. Corridas ilegais e carros super tunados deixaram de ser o foco, dando espaço a cenas de ação elaboradamente absurdas e tramas “complexas”. Em Velozes e Furiosos 6 observamos que o entretenimento passou a ser o principal objetivo e qualquer apresso pela física e pela lógica é ignorado para alcançá-lo.
O sexto capítulo da série é roteirizado mais uma vez por Chris Morgan e nos apresenta a gangue de Dominic Toretto espalhada pelo mundo desfrutando de uma vida confortável após os milhões roubados no golpe do Rio de Janeiro. Mas essa tranqüilidade é quebrada depois do agente Hobbs ir procurá-los com uma proposta : ajudá-lo na caçada ao terrorista Owen Shaw e em troca ganhar o perdão governamental e acesso a uma informação importante – Letty, dada como morta, está viva e trabalhando para o vilão. Momento de reunir a equipe para mais uma missão.
De cara percebemos que Justin Lin e Chris Morgan trabalham com o objetivo de integrar todos os filmes da série, construindo um mapa cronológico inteligível. Para isso o texto faz as mais variadas referências aos filmes anteriores, respeitando e enaltecendo a história já estabelecida dos personagens. Mas convenhamos, uma estratégia que acaba não causando o impacto esperado, devido a fragilidade e irregularidade dessa jornada.
O texto acerta na construção do antagonista Owen Shaw, vivido pelo competente Luke Evans. O personagem levado a sério pelo seu intérprete a todo o momento é o melhor vilão da franquia, sua presença oferece uma ameaça digna e ajuda a construir um clima de tensão interessante que acaba sustentando a narrativa. Outro elemento que se mostra bem mais presente é o humor. Nem todos os alívios cômicos funcionam como o esperado, alguns beiram o ridículo, mas é notória a evolução de Tyrese Gibson e a segurança do Ludacris nessa função.
Por mais que a abordagem do Justin Lin tenha uma tendência a não se levar a sério, mais focada no entretenimento do que na narrativa em si, o roteiro possui alguns furos e incoerências que beiram a barreira do absurdo. O texto se apóia em justificativas infantis e apela para a criativa perda de memória para explicar o retorno de Letty da terra dos mortos (a justificativa usada no último Resident Evil para explicar o retorno da mesma Michelle Rodrigues foi mais criativa). Com uma noção de tempo que foge a compreensão humana, nunca foi tão fácil fazer uma viagem de Londres para Los Angeles, ficar numa penitenciária de segurança máxima, arrancar informações de um chefe do cartel de drogas e retornar num prazo quatro dias.
Justin Lin demonstra bastante desenvoltura na direção das sequência de ação, sendo realmente o ponto alto do longa. Destaque para a complexa sequência de perseguição envolvendo um tanque de guerra e as habilidades sobre-humanas de Dominic Toretto, que no final redefinem todo o conceito da palavra “amortecer”. A última cena de ação do longa também merece destaque, por apresentar interessantes embates corpo-a-corpo, por conter uma pista de decolagem infinita e por ignorar completamente todas as leis estabelecidas pela física.
O elenco em geral não traz muita novidade: Gina Carano demonstra de vez que como atriz ela é uma excelente lutadora de MMA, fazendo Michelle Rodrigues, mesmo interpretando sua mulher durona característica, parecer a Meryl Streep. Enquanto Dwayne “The Rock” Johnson empresta seu carisma característico ao seu personagem como de costume, Paul Walker continua sendo tão expressivo quanto um manequim e Vin Diesel continua sendo…Vin Diesel.
Mesmo com todos os seus problemas, Velozes e Furiosos 6 oferece um entretenimento digno e duas horas de ação, perseguições e explosões empolgantes. A história nunca foi o forte da série, lembrar com clareza dos filmes dois dias depois de assisti-lo é um desafio, mas enquanto essa franquia continuar nos proporcionando cenas como a porrada entre a Michelle Rodrigues e a Gina Carano, ainda valerá a pena ignorar algumas idiotices e se divertir com a canastrice de Dom Toretto e Cia.
Obs.: Fiquem até depois da mensagem” não façam isso em casa”
Renan Sena